Sérgio Ayres escreve uma crônica de despedida do Lô Borges
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Sérgio Cardoso Ayres
MEMBRO DA ACADEMIA BARBACENENSE DE LETRAS
Nem bem começávamos a aceitar com tristeza a fragilidade da saúde de Milton Nascimento, a voz de toda uma geração, somos surpreendidos pela morte de Lô Borges, talvez o “sócio” de espírito mais doce e delicado do Clube da Esquina, confluência em que Minas Gerais se encontrou em canções inesquecíveis e que ajudaram a mineiridade a tomar conta de um país. Sim, o café esfriou e, pelo menos hoje, o pão de queijo não vai para o forno e nem teremos goiabada com queijo de sobremesa. Não! Sinto muito. Fica para outro dia. Mas vai chegar, não se preocupe.
A longa reta da vida, de repente, dobrou em uma esquina qualquer, sem importância, esquecidas pelas avenidas e highways, e interrompeu uma trajetória que tinha alma colonial, feições barrocas e destino sinuoso como os morros e as montanhas. E nem mesmo Santa Tereza, lá pelas bandas da região leste de BH, em que o sol nasce e faz belo o horizonte, ora pro nobis. É hora de parar um pouco, de se sentar no batente de uma casa antiga, tocar um violão e não chorar. Ou, então, olhar pela janela lateral do quarto de dormir e sorrir ao ver o trem azul passar.
O velho tênis, cansado de tanto caminhar, é apenas o passo indeciso de quem troca de dimensão, igual a percorrer toda a Serra do Curral para descansar na Praça da Liberdade. Ainda ficaram Betos, Miltons, Flávios e Toninhos, entre outros, mas Lô e Fernando se foram. É a vida. Ou é a morte? As duas, não diria o poeta. E lá longe, no entorno do Maleta, alguém aguarda o amigo que nunca mais vai chegar a tempo.
E lá se vai! A menina tira o girassol do cabelo, mata a aula no Sacré-Coeur e despetala todo o ramalhete. Não temos mais saída. Só nos resta tocar novamente as canções que a gente quer ouvir. Até mais, Lô!
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