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Ler & Pensar | A crônica de Sérgio Cardoso Ayres: "Lázaro, o Furtador"



Sérgio Ayres acompanha de perto as peripécias e furtos de Lázaro

LÁZARO, O FURTADOR

Sérgio Cardoso Ayres

Membro da Academia Barbacenense de Letras

 

Barbacena e Antônio Carlos têm acompanhado, até mesmo com uma certa histeria, a ascensão midiática de Lázaro, o famoso ladrão que vem desafiando a polícia e assustando os moradores das duas cidades com suas peripécias proibidas pela lei. Quase todos os dias surgem versões de que ele foi visto ali, furtou uma televisão aqui, preparou um bolo na casa de fulana, assou uma lasanha na air fryer novinha de sicrana, dormiu na cama da dona Maria, furtou mantimentos na casa de beltrano e fugiu sem deixar rastros. Enfim, tudo que pode acontecer de nocivo na região já tem um autor: o tal do Lázaro. O curioso é que ele recebeu esse nome por causa de um outro, digamos assim, criminoso de maior periculosidade, que durante quase um mês driblou a polícia da região de Goiás. Acusado de homicídio, ele terminou morto depois de uma perseguição que rendeu muita audiência na mídia e dezenas de histórias, nem sempre todas verdadeiras.

O nosso Lázaro tem como área de atuação, pelo menos por enquanto, a zona rural. Especialista em pequenos furtos, ele invade residências momentaneamente vazias e comete suas infrações, até o momento, sem violência. Suas façanhas já viraram prosa e verso na região, sendo temido pela maioria e reverenciado nas conversas por aí, já que zona rural quase não tem esquinas. Além, claro, de sucesso no Flagrante BQ e no EXPRESSO. Se passar um carro da polícia com sirene ligada, o que acontece todo dia, logo alguém afirma que o Lázaro foi visto nos arredores ou mesmo em cidades vizinhas e que fez isso e aquilo, deixando a polícia confusa com seus crimes e fugas extraordinárias. E os boatos sobre ele só aumentam quase que na mesma velocidade de sua atuação. Eu já ouvi histórias sobre Lázaro que daria um belo romance policial em que o bandido vira herói e a polícia pouco pode fazer. Ou seja, o povo faz do criminoso um ídolo. Esse tipo de comportamento nos remete, com a devida isenção, à síndrome de Estocolmo, fenômeno psicológico em que as vítimas desenvolvem simpatia e até mesmo afeto por seus agressores. Lázaro, sem dúvida, já se enquadra nessa situação. Isso sem falar nas piadas e memes nas redes sociais, como também no seu perfil. Ele usa capuz como Justin Bieber, é ágil como Tom Cruise e parece ter o corpo fechado por espíritos, sendo invulnerável segundo a crença popular.

Outro Lázaro famoso foi aquele, segundo relato bíblico no Evangelho de João, que Jesus chamou novamente para a vida depois de morto. Esse é o Lázaro ressuscitado, o lazarento, que acabou virando o protetor dos acometidos pela hanseníase, na época chamada de lepra, numa associação equivocada feita com seu homônimo, outro Lázaro, um mendigo acometido pela lepra em uma parábola bíblica mencionada por Lucas. Khalil Gibran deve muito de sua notoriedade literária quando escreveu as lamentações de Lázaro, que já havia encontrado o reino dos céus com sua morte e que teve que retornar ao mundo dos humanos por ordem de Jesus. Que dureza!

Nosso Lázaro, aqui do Campo das Vertentes, apesar de toda a perseguição policial e as lendas em torno do seu nome, já conquistou de alguma forma os barbacenenses. Digo isso pelas conversas que escuto, uma delas de que é até ‘meio’ charmoso. Já viu, né! Sei que ele nada tem de Robin Hood, não tira dos ricos para dar aos pobres. Pelo contrário, furta gente simples. Muito menos tem a audácia de João Acácio, conhecido como o bandido da luz vermelha, já que iluminava seus crimes com uma lanterna dessa cor. E nem a virulência do Maníaco do Parque, que aterrorizou a capital paulista. Nosso Lázaro, até prova em contrário, é adepto do furto, que é o crime sem violência ou ameaça, ao contrário do roubo. Se vai continuar assim, se vai ser preso pela polícia, já que sua imagem, embora pouco nítida, já circula pelas redes sociais, se vai se aposentar ou partir para infrações maiores, não sabemos. Seus quinze minutos de fama, como disse Andy Warhol, já viraram mais de um mês! Nosso Lázaro já entrou para a história. Pena que pelas portas e janelas da casa dos outros!

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