'Soltando o verbo ENVERGONHAR, com a escritora Lucimar Zanzoni

Contemporânea, artista sem pretensão, moderna, desafiadora, criativa, meiga e genial. Lucimar Zanzoni é convidada do BarbacenaMais e está publicando suas séries de crônicas aos domingos aqui. Um pouco de leveza e literatura para dias pesados e instigantes. Hoje é dia de falar sobre ENVERGONHAR  ;-)

SOLTANDO O VERBO ENVERGONHAR

Por Lucimar Zanzoni*

Envergonhar
Até certo tempo atrás, as pessoas se envergonhavam pelo que faziam de errado ou pelo simples fato de serem tímidas ou acanhadas. Hoje a coisa anda tão esquisita que passamos também a sofrer de vergonha alheia. É aquela vergonha que a gente sente em virtude dos atos dos outros. Há casos até que somos testemunhas de atitudes inaceitáveis, mas outras vezes nos basta saber que o fato aconteceu, para causar em nós este estranhamento incômodo, que nos faz apresentar expressões faciais de fastio ou nojo, ou nos cora as faces, ou nos causa um calor estranho que nos aborrece.
Mas o pior de tudo é quando este sentimento, por demais enfadonho, passa a nos visitar com freqüência. Ler o jornal tem sido uma jornada louca neste mundo inóspito. Notícias de fraudes em licitações de compras de medicamentos, aparelhos médicos, respiradores. Em contraponto com o número cada vez maior de pessoas necessitando do SUS, aguardando atendimento nos corredores dos hospitais, são atos que nos envergonham muito. Como alguém consegue tirar vantagem da fragilidade, da doença, do medo de morrer das pessoas. Aí no meio desta balbúrdia toda, alguns funcionários públicos municipais do Rio de Janeiro passam o ridículo papel de atrapalhar os jornalistas em seu trabalho nas portas das unidades de saúde, sob a alcunha de “guardiões”. Muito vergonhoso!
Nesta modalidade reportagens externas, nunca senti tanta vergonha de um cidadão de minha cidade que atacou violentamente um repórter de uma emissora, que também estava trabalhando em prol da informação de todos. Deplorável!
Outro dia li também que os membros da banda Pink Floyd ganharam tanto dinheiro com certo álbum deles, que tinham vergonha. Achavam que foram supervalorizados por ficarem muito ricos em pouco tempo, mas ao contrário deles alguns políticos no Brasil, não sentem a mínima vergonha de enriquecer graças aos cofres públicos. São rachadinhas, lavagem de dinheiro, maracutaias. E em pouco tempo enchem os bolsos, as malas, as contas, as cuecas e tudo o mais que tiver espaço para tal. Costumam também inventar dados, omitir outros, falam inverdades para que todas as nações possam escutar. E o povo continua votando neles. Que vergonha alheia!
E não é só no nosso país. Se levantarmos os olhos prá cima da linha do Equador, vamos nos lembrar do último debate presidencial televisado nos EUA. Um festival de mentiras, grosserias, impropérios e falta de educação nunca imagináveis. Um interrompendo a fala do outro, questionando detalhes familiares delicados, mentindo, gritando, agredindo verbalmente. Detestável! Fico pensando como alguém pode decidir seu voto assistindo aquele show de horrores.
Para finalizar o meu desfile de vergonha alheia, lembro daquele desembargador que tinha problemas de identidade e se achava ou tinha certeza, talvez, um Deusembargador, que humilhou, falando em francês com um guarda municipal, que havia solicitado dele o uso da máscara, detalhando seu currículo para impor respeito e desrespeitar a lei. Na sequência, o rapaz que rebaixou ao máximo o motoboy que foi lhe entregar uma encomenda; o médico que visivelmente embriagado exigiu ser atendido num restaurante, um dos mais caros de São Paulo, que ia fechar dez minutos após e que no afã da discussão barraqueira, falou que ia chamar o delegado dele (?), por que tinha berço. Ah, e ainda tem mais. No meio da maior aglomeração no Leblon, um barata-voa danado. Garrafa de água jogada em duas mulheres que andavam num carro conversível de biquíni. Uma delas sai do carro e ataca a agressora. Um homem vai defender a agressora e segura a parte superior do biquíni que acaba caindo. Em resumo, tudo errado, mais vergonha.
E tem muito mais. Têm policiais que “se acham” e tripudiam de negros e pobres, cometendo muitas injustiças. Têm o número crescente de feminicídios, especialmente neste ano de maior necessidade de isolamento. Têm chefes que fazem assédio moral com seus subordinados. Têm líderes religiosos que ludibriam os fieis para obter vantagens financeiras e de outras naturezas. Tem ministro se aproveitando do momento para aprovar o que não devia e muito mais... Haja vergonha alheia!
(Lucimar Zanzoni)


Minhas indicações hoje foram tiradas do fundo do baú, mas são magistrais. O filme “Advogado do Diabo”, HBOGO, mostra o lado mais perverso das pessoas. “Assédio sexual”, HBOGO, fala da força do sexo nas relações corporativas. A série “House of Cards”, Netflix, sobre os bastidores da política americana. E o filme “A informante”, Prime Vídeo, sobre corrupção e tráfico sexual na Bósnia. Uma seleção dura e crua sobre as vergonhas que a humanidade comete.

Foto artística @gobotorugobotoru @art_cage_budapest

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*Lucimar Zanzoni

O BarbacenaMais tem a honra e se orgulha de convidar para escrever nas páginas de um periódico barbacenense a autora Lucimar Zanzoni, que já é sucesso nas redes sociais e vem encantando adultos e jovens com sua literatura moderna e criativa.

Lucima Zanzoni é apaixonada por números, palavras e pessoas. Bancária aposentada, mãe por natureza e prá sempre. Procura espalhar nas redes sociais suas percepções e intuições sobre a vida de forma leve. Você a encontra também no Facebook Lucimar Zanzoni, no Instagram @LucimarZanzoni ou buscando por #levezasdalu. Seu email para correspondência é Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

O texto acima faz parte da série Soltando o Verbo, onde Lucimar reflete, neste período de pandemia, sobre um verbo relacionado com o assunto e com o momento. 

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