Contemporânea, artista sem pretensão, moderna, desafiadora, criativa, meiga e genial. Lucimar Zanzoni é convidada do BarbacenaMais e está publicando suas séries de crônicas aos domingos aqui. Um pouco de leveza e literatura para dias pesados e instigantes. Hoje é dia de falar sobre ENVELHECER ;-)
SOLTANDO O VERBO ENVELHECER
Por Lucimar Zanzoni*
Envelhecer
É quando a gente fica sabendo que o colesterol está meio alto, a glicemia está abilolada e já não consegue fazer algumas coisas como agachar e levantar rapidamente ou lembrar nomes de atores e livros, que o peso da idade começa a preocupar.
Não sei se foi este dia de conscientização do Alzheimer ou o fato de saber que no Japão, o dia 21 de setembro é feriado pelo dia de respeito aos idosos ou qualquer outra prosa sobre os efeitos do tempo na nossa vida, só sei que envelhecer, entrou no meu imaginário nos meus últimos dias e não quer me largar.
Apesar de ser fato incontestável, ser veterano na vida não está nos planos de ninguém. Todo mundo quer viver muito anos e ficar jovem sempre. Como se fosse possível ter aquela pele de pêssego dos quinze anos ou aquela barriga tanquinho dos dezoito para sempre.
O interessante é que a natureza nos leva a aceitar este processo de deteriorização do corpo gradativamente, nos fazendo ser maduros na hora que mais precisa. Bom..há os eternos insatisfeitos, aqueles que se acham sempre gordos, sempre feios, sempre mal arrumados ou sempre com o cabelo horrível. Para estes, com certeza, o processo será ainda mais doloroso. Além das juntas, doerá também a vista quando esta encontrar o espelho todas as manhãs.
Por outro lado, a maturidade traz também uma percepção diferente da vida, uma paixão pelas lembranças, uma saudade boa de sentir. E só não passa por isto quem não apreciou cada garfada do seu prato predileto, não chorou a cada filme triste, não se emocionou ao reencontrar um amigo, um velho amor. A nostalgia enriquece o caldo do dia a dia. A esta altura os tempos verbais são todos pretéritos, diferente da juventude, quando se usa muito futuros e alguns condicionais.
Se a gente olha prá trás e vê a estrada percorrida, sente alívio e orgulho pelo caminho andado e não ansiedade e medo do que vem pela frente. Sente que não salga mais a comida, pelo contrário, acerta sempre no tempero. A experiência é a mãe da tranqüilidade. E esperar deixa de ser uma agonia, porque o tempo deixa de ser exato. Por exemplo, sessenta minutos de fila num banco passam a ser uma hora de prosa com o vizinho de fila, trocando receitas, novidades e até confidências. Não se faz isto com prazer nunca antes dos cinqüenta. Há sempre coisas a fazer depois, filhos para apanhar em algum lugar, contas a pagar, supermercado a ir, serviço para entregar. Nesta idade, estes minutos pesam como a eternidade.
Passa-se a pensar que o fim do dia não significa o fim do mundo. Simplesmente amanhã tem mais. O sol vai nascer de novo, um carro vai passar correndo, alguém vai morrer, uma criança vai chorar, um rabugento vai reclamar e o que sobrou do dia anterior sem fazer, vai ser concluído. É assim que a banda toca..
Viver sem metas, que não sejam relacionadas ao próprio dia, traz mansidão para o coração, porém objetivos sempre são necessários, fazem o olhar sair do lugar, despertam vontades únicas. Viver é uma experiência maravilhosa, mas envelhecer com a mente esperta, curiosa e atenta é uma dádiva.
(Lucimar Zanzoni)
Indico a obra prima “O curioso caso de Benjamin Button”, Telecine , filme baseado no livro de F. Scott Fitzgerald onde rejuvenescer dói e traz dilemas únicos.
Na Netflix, o filme “Ruth e Alex” aposta numa relação linda na maturidade e seus dilemas do dia a dia.
E “A incrível história de Adaline”, Prime Vídeo , que mostra que a imortalidade traz muita solidão.
E de brinde a leveza da música “Envelhecer “de Arnaldo Antunes. HTTPS://youtu.be/HFgi79Bbrxl
Foto artística de @monaris , @art_cage_budapest
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*Lucimar Zanzoni
O BarbacenaMais tem a honra e se orgulha de convidar para escrever nas páginas de um periódico barbacenense a autora Lucimar Zanzoni, que já é sucesso nas redes sociais e vem encantando adultos e jovens com sua literatura moderna e criativa. Lucima Zanzoni é apaixonada por números, palavras e pessoas. Bancária aposentada, mãe por natureza e prá sempre. Procura espalhar nas redes sociais suas percepções e intuições sobre a vida de forma leve. Você a encontra também no Facebook Lucimar Zanzoni, no Instagram @LucimarZanzoni ou buscando por #levezasdalu. Seu email para correspondência é O texto acima faz parte da série Soltando o Verbo, onde Lucimar reflete, neste período de pandemia, sobre um verbo relacionado com o assunto e com o momento. ... BarbacenaMais... |