Coluna Olhar e Ler de Niro Nash

Niro Nash, comenta sobre o universo masculino no BarbacenaMais 

ARTIGO

Coluna Olhar e Ler de Niro Nash

“De tempos a tempos, acendia um fósforo para ver as horas no seu relógio. Quando viu que a meia-noite se aproximava, a sua impaciência tornou-se febril. De instante em instante, metia a cabeça pela portinhola para observar.

Um relógio longínquo deu as doze badaladas, depois outro mais perto, a seguir dois juntos e por fim um último, muito ao longe. Quando esse terminava, Du Roy pensou: "Acabou-se. Falhou. Ela não virá." Estava, no entanto, resolvido a esperar até ao amanhecer”. 

Du Roy é um personagem do livro “Bel-ami” de Guy de Maupassant [...] que esperava pela amante à meia-noite, em algum lugar de Paris. Se ela apareceu ou não, é outra história. Nos valemos desse recorte literário para algumas construções, entre elas o “olhar masculino” para com as mulheres. Nesse caso, escrevo para vocês, para o feminino. 

A literatura oferece essa magia: criarmos “cenas” em nossa mente. Volte, releia o texto e preste atenção nas imagens que você criou (nem imagino quais são, tenho as minhas). Observe os detalhes físicos: local, cores, o relógio, o fósforo aceso, a aparência física de Du Roy, etc. Agora, os detalhes emocionais, em foco, a ansiedade de Du Roy e, principalmente, o tempo que transcorre.

É um tempo não linear, as catedrais de Paris não badalam os sinos de meia-noite ao mesmo tempo. Fosse assim, Du Roy, talvez decidisse ir embora. Entramos no ponto principal: o tempo “futuro” cria nossas ansiedades, imagens e olhares. Quem nunca ficou ansioso esperando um amigo, uma paquera, um namorado, o marido, ou sem hipocrisia, um amante?

Só posso escrever sobre o “olhar masculino” pelas minhas experiências, me posicionando com certa distância. Todos vivenciamos algum “atraso”, já deixamos pessoas esperando, seja por minutos, horas, dias ou anos, sem nunca chegarmos, ou chegarmos, sem estarmos presentes. Ajustando o “diafragma” para uma imagem mais pontual, voltemos à questão do olhar, vou me restringir a seis exemplos clássicos, existem mais muito mais. 

Há, primeiro, um tipo de olhar masculino, que poderia dizer, quase ofensivo ou “estuprador”. É o do homem que “disseca” ou “seca” a mulher, a transformando em objeto de suas fantasias sexuais mais imediatas. Acontece muito. Em São João del Rei, saí com uma amiga. Ela, por justa escolha em um dia de calor, vestiu um short, normal, até discreto. No bar que fomos, não fiquei assustado. Se não entendesse do assunto, não estaria escrevendo. Foram tantos olhares que disse a ela: “Aqui neste lugar você não é um ser humano, você não é uma mulher, é objeto de consumo!!!”. Não farei julgamentos, pois teria que entrar em detalhes, até antropológicos, ou pior, patriarcais e machistas.

Um segundo tipo de olhar é o que não se sustenta. Pertence a homens que têm certa confiança, mas não total, há inseguranças, até desconhecidas deles próprios. Muitas vezes, podem ser boas pessoas, mas têm medo, olham a mulher, mas também são os primeiros a “fugir”, a “desviar”. Dificilmente irão te abordar e puxar uma conversa. Nesse caso, se você tem interesse, tomar atitudes é sua responsabilidade.

O olhar “escondido” também é comum em certos homens. Só te olha se você não estiver olhando para ele. Existem duas vertentes: o “voyeur”, olhar pelo prazer de olhar sem ser visto, e o profundamente tímido ou inseguro. Os primeiros podem ser perigosos, presenciei um caso de uma amiga que, morando em uma cidade do interior, certo homem fez um minúsculo buraco na janela de madeira do quarto dela que dava para a rua. Pior, auxiliar de fotógrafo, não preciso alongar o assunto. Já os “segundos” podem, reafirmo podem, ser homens sensíveis e, embora inseguros, terem boa índole e ótimo papo. O único risco é que homens inseguros podem transformar sua vida num “inferno”, se o ciúme predominar.

E tem o homem que te olha, mas finge não te notar. Típico “malandro”, se munido de más intenções, vai dizer coisas interessantes, falar sobre cinema, teatro, vinhos, gastronomia... É o conhecido “rato de praia” que, um dia, vai te convidar para ver o pôr-do-sol e, quando você menos esperar, te agarra. Se gostar, ótimo, vá em frente. Em geral, esse tipo de personalidade masculina será muito fiel a você... por três semanas!!!

Para completar a lista, tem o “olhar COM amigo”! Quero dizer daquele tipo de homem que, na maioria das vezes sai apenas com UM amigo experiente, nunca em turma. Ele, além de olhar, precisa de opinião alheia, precisa que o amigo diga: “Vai lá, ela está a fim também”. Sei não, homem que depende da opinião e incentivo de outro pode ser uma grande fria.

Não poderia terminar sem falar do olhar verdadeiro, o melhor, o olhar das melhores intenções, já que a verdade é profundamente subjetiva. No decorrer de um relacionamento, tudo começa pelos olhos, não importa a cor. Como afirmou uma amiga: “Dane-se os ‘sedutores’ olhos azuis ou verdes, quero saber se o homem sabe me olhar”. Há cegos, no sentido literal, que sabem “olhar” uma mulher melhor que muito homens que enxergam.

É aquele cara que vai te olhar com carinho, esperar algumas catedrais baterem meia-noite, mas nem todas e, antes da última badalada, ele vai estar do seu lado com respeito. Se for um cara legal, que bom para vocês. Desejo muita sorte!!!

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Sobre o autor

Niro Nash, codinome de Niraldo José do Nascimento, é doutorando em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, na linha de interpretação fotográfica e acervos. Fotógrafo amador e autodidata, tem profundo interesse por imagens, suas subjetividades e potencialidades, tendo-as utilizado em sua carreira com excelentes resultados. Alinhou sua experiência imagética no desenvolvimento de modelos gráficos contextuais e simulação de sistemas computadorizados. Professor de graduação e pós-graduação, na área de gestão de projetos e do conhecimento, comportamento organizacional e outras; consultor, membro do Grupo de Pesquisa em Acervos Fotográficos – GPAF (UnB/CNPq), editor da página DIGIFOTOWEB no Facebook; Supervisor Editorial da Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento e Expert reviewer on the panel for Innovation: Management, Policy & Practice - Journal of Management and Organisation e Brazilian Chapter Representative da System Dynamics Society de 2005 a 2007, reeleito em 2011.

Site: Intertextualidades: http://www.nironash.com/

 


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