Barbacena celebra bicentenário de Correia de Almeida

O que poderia ser dito de alguém que nascia há 200 anos para justificar tal comemoração? A pergunta pode ser respondida com outra: qual contribuição esse indivíduo trouxe de importância?

O que poderia ser dito de alguém que nascia há 200 anos para justificar tal comemoração? A pergunta pode ser respondida com outra: qual contribuição esse indivíduo trouxe de importância?

Assim, focalizar José Joaquim Correia de Almeida (1820-1905) é de valia, não por ser ele um dos filhos notáveis de Barbacena, entretanto, pelo seu diferencial como operário da palavra, pois com sua presença na literatura conseguiu fazer da Mantiqueira uma referência para se entender o século 19, os comportamentos sociais, políticos e filosóficos desse período. Fez isso com irreverência e poesia.

José Joaquim Correia de Almeida (04 de setembro de 1820/ 06 de abril de 1905) nasceu em Barbacena, MG. Produziu 685 sonetos, 22 livros, além de um trabalho em prosa. Estudou humanidades e foi aluno de música de José Antônio Marinho (cônego), em São João Del Rei e se ordenou padre no Rio de Janeiro. Com José Maria Xavier, também sacerdote, estabeleceu uma marcante produção de música sacra e algumas referências notáveis, por exemplo, o 3º Movimento do Ofício das Trevas, pungente composição ainda ouvida nas festividades da Paixão, foi a ele dedicado. Em 1840, compôs o Hino da Maioridade de D. Pedro II. Foi abolicionista. Teve claro posicionamento quanto à mudança da capital de Minas Gerais de Ouro Preto para a atual Belo Horizonte. Foi Mestre em Língua Portuguesa, Latim e Música. Dominava literatura clássica e seus livros foram editados com esmero. Era bemhumorado e se comunicava com irreverência e jocosidade, sendo original ao criticar o poder e suas nuanças. Olavo Bilac, Artur Azevedo, Carlos de Laet, Eduardo Frieiro, Ferdinad Wolf, Camilo Castelo Branco, Júlio de Castilhos, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Filocelina Matos e Natalina Jardim e outros tecem apreciações sobre sua obra. É Patrono da Cadeira de nº 19 da Academia Mineira de Letras, da de Cadeira nº 18 da Academia Municipalista de Letras de MG e da Cadeira nº 01 da Academia Barbacenense de Letras. Pertenceu a várias entidades, entre as quais, o Instituto histórico e Geográfico Brasileiro como membro correspondente

Correia de Almeida foi bom na arte de compor sátiras, epigramas, sonetos e outras tessituras poéticas. Confira na sequência a seleção e notas elaboradas por Mário Celso Rios, integrando o Projeto C. A. 200, com apresentação de textos do renomado autor barbacenense.

 

OS CARNÍVOROS

A cutia arremeda o pio do macuco

Para chupar-lhe o suco

A onça no macuco e também na cutia

fome e sede sacia.

Sem ter fome nem sede a nossa malvadez

arranca a vida aos três.

 

NOTA: Correia de Almeida observa o comportamento animal e humano.

Deixa em aberto ao leitor tirar suas conclusões (MCR).

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A NATURALIDADE

Scimus... (Horácio, Arte Poética)*

Sei que asseveram

que os tais pintores

sempre tiveram

amplos favores.

 

Fantasiando

cousas e lousas

Iam pintando

Estranhas cousas.

É mais exata

Sem fantasia

hoje a barata

fotografia.

 

NOTA: (*) Scimus, do latim, pode ser traduzido por “Nós sabemos...”

Correia de Almeida mostra a questão pintura X fotografia e a discussão

que começa a ser travada (século 19) sobre objeto, imagem, técnica de elaboração,

entre outros aspectos (MCR).

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SONETO A BARBACENA

Eu nasci na fresca Barbacena,

planalto que se diz da Mantiqueira,

E aqui vivo esta vida corriqueira,

Infecunda, monótona e serena.

Divirto-me lançando mão da pena,

Sem estro nem ciência verdadeira

e de anos vou na rápida carreira

já próximo da sétima dezena.

Não troco por Paris nem por Lisboa

A cidade natal,

que é tão boa que me deixa

beijar-lhe as duas mãos

Se nos postos não tenho tido acesso,

É só porque dos méritos o acesso

acima põe os meus irmãos.

 

Nota: Apud Sonetos e Sonetinhos, p.7, Rio de Janeiro: Laemmert e C. 1887.

Seleção elaborada por Mário Celso Rios. Projeto C. A. 200.

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Correia de Almeida Bicentenário - 04-09-2020

EFEMÉRIDE

Nesta data há duzentos anos nascia José Joaquim de Almeida (1820-1905) em Barbacena, Minas Gerais.

Foi padre, professor e músico.

Ficou conhecido principalmente como Poeta Satírico e escreveu vários livros.

Homenagem a um cidadão que deu seu recado e haverá de continuar a ser lembrado por sua contribuição à literatura! (Academia Barbacenense de Letras e todos os que cooperam em prol da cultura).

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Por Professor Mário Celso Rios – presidente da Academia Barbacenense de Letras / Fonte: Arquivo da Academia Barbacenense de Letras e outros


Via Agência Expresso


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