A Universidade de Música Bituca já é o curso mais disputado no país pelos estudantes que escolhem a música como profissão. Na última semana a Bituca formou cerca de 200 alunos e recebeu outros tantos que iniciam sua trajetória.
A Bituca e o bandolim caprichoso de Hamilton de Holanda
Um dia frio, daqueles que faz de Barbacena a nossa e velha e boa cidade. E nada mais representativo de nós mesmos aqui na Serra da Mantiqueira do que o Ponto de Partida, uma mistura de cultura, empreendedorismo, mineiridade, garra e talento. E o oito de abril marcava uma data especial: formatura de uma turma de alunos da Bituca, uma experiência inédita no ensino da música, o início de um novo ano letivo naquela chamada de Universidade de Música Popular e a presença do bandolim mágico e caprichoso de Hamilton de Holanda, instrumentista e compositor reconhecido internacionalmente.
Na chegada já uma surpresa. Uma não, duas: o piso de mármore e o paisagismo viçoso do Inhotim – ambos como moldura para a Estação Ponto de Partida, imóveis da antiga Sericícola completamente recuperados para a alegria do patrimônio cultural de Barbacena. Só falta mesmo o Ministério da Agricultura criar vergonha na cara e desocupar o primeiro casarão. E ainda era de manhã, quase onze horas. Os jovens formandos chegavam de toda parte, como também a imprensa - todos recebidos com o sorriso dos atores, quer dizer, dos integrantes do Ponto, dublês deles mesmos pela desenvoltura e múltiplas atividades.
Concorridíssimo, o workshop de Hamilton de Holanda revelou um músico extraordinário para quem não o conhecia, o mágico ‘inventor’ do bandolim de dez cordas. 'Presente de vô', como ele disse, quando se viu gente estava como o bandolim na mão. “Cresci no choro, no samba e na bossa nova. Música é música, sem preconceito. A técnica é importante, no mínimo, para alimentar a intuição, esta fundamental. Divido-me entre o profissionalismo e a coisa lúdica. Acordo cedo, planejo, tenho o pé no chão”, disse ou insinuou o músico, entre milhares de acordes e as perguntas de Gilvan de Oliveira e Pablo Bertola.
Na saída, os formandos, quando questionados, tinham respostas na ponta da língua, para os estudantes de canto, e na ponta dos dedos, para os instrumentistas. “A Bituca é uma melodia. Eu, se pudesse, saía de um curso e entrava em outro. Aqui é o início de uma carreira para todos nós. Eu estou me formando e iniciando um outro curso. Quando vi que tinha passado nas provas de acesso aos cursos senti que minha vida iria mudar. Formar é uma alegria e uma tristeza. Foi a melhor época da minha vida”, disseram vários alunos.
Quando deu quatro horas, o tempo havia esquentado mas já começava a esfriar novamente. Isso do lado de fora. Porque dentro do peito dos novos alunos o coração batia descompassado – eles ainda iriam aprender o compasso musical da vida dos estudantes de música. “Confesso, estou nervoso. Vim de longe mas já me sinto em casa. Nossa, Barbacena preserva o verde. Não sabia que aqui era tão bonito. Um dia vou ser cantora, vocês vão ver. Vou fazer esse sonho virar realidade”, diziam entre sorrisos e esperança de uma formação para fundamentar a intuição de uma profissão – como afirmou Hamilton de Holanda.
A aula inaugural para os 230 novos alunos foi uma pequena demonstração da estrutura da Bituca, que tem novos patrocinadores, como a GVT e futuramente a Petrobrás, entre outros. E como não poderia faltar, com a palavra, Regina Bertola. “A Bituca é a escola de música que tem mais candidatos por vaga, mais do que UFMG ou a Unicamp. Ninguém pode ser rico se abandonar a sua herança. É comum, quando jovem, quem tem talento pra música, ser o sucesso das festas de aniversário e dos encontros familiares, mas se eles disserem para os pais que querem ser músicos na vida vão ouvir: escolha uma profissão primeiro. A música é a consequência da vida, todo mundo aqui na Bituca ensina e aprende. Vocês vão tirar da escola o que colocarem aqui. Ela é uma escola para desatar amarras mas disciplinadora. Temos que ter foco. Este é um espaço de confiança. A música nos leva a dimensão do eterno, mas, para chegar lá, temos que ser humanos”, disse ela, não nessa ordem. Sendo completada por Gilvan de Oliveira: “Este lugar é o ponto de partida nesta travessia”, unindo o grupo com a canção do artista que empresta seu nome ao espaço cultural.
E o frio aumentava enquanto a emoção aquecia a todos. E chegou a hora do show, sempre em horários adequados e com o profissionalismo do Ponto. A garoa ameaçou mas ficou só nisso mesmo. Dessa vez acompanhado, Hamilton de Holanda mostrou novamente o seu bandolim com composições próprias, de Tom Jobim, Baden Powell, Geraldo Vandré, entre outros. A plateia delirou. Poucas vezes a cidade viu e ouviu um instrumentista tão completo.
Que dia! Ou melhor, que noite!! Ah, especial mesmo. E Ponto!