Ângelo Satyro | A importância da morte em nossa vida

Nesta edição do BarbacenaMais, a estréia do antropólogo Ângelo Satyro falando sobre a importância da morte em nossa vida. LEIA!

A IMPORTÂNCIA DA MORTE EM NOSSA VIDA

Por Angelo Sátyro - Antropólogo

BARBACENA, MG - Passado o dia de finados, data em que os cristãos rememoram seus mortos, como antropólogo sou levado a pensar sobre a importância da morte em nossas vidas. Sobre a morte, primeiro existe o fato de ela ser um processo natural e biológico na vida dos seres humanos, e segundo ser um fato cultural na vida dos grupos sociais, em especial os grupos que compartilham valores com base na religião. Assim, mesmo sendo universal em termos naturais, em termos de cultura, cada religião vai ter a sua interpretação própria sobre a morte. Não existindo uma cultura igual a outra, não existirá uma religião igual a outra. E portanto, diferentes serão suas interpretações sobre a morte.

Desta forma gostaria de fazer uma pequena analise sobre a interpretação de três religiões e suas relações com a morte.

A primeira religião é a Hare Krishna. Entre os HARE KRISHNA, o ser humano se não praticar certos atos viverá eternamente reencarnando. E um destes atos que vai determinar sua reencarnação é o que ele come. Sendo um interdito qualquer alimento a base de carne e sendo a vaca um animal sagrado, por comer carne de vaca, principalmente, esta pessoa ira reencarnar, quanto vezes for o número de pelos daquela vaca. E renascer, eternamente, sem cair na redundância, é uma dor eterna. Pois, nascer doe, viver doe, vivemos doentes, perdemos parentes, e morrer doe, uma vez que segundo os Hare Krishna, aquele discurso que a morte é uma luz branca vindo lá de longe que vai ficando cada vez mais clara, trata-se de pura ficção. O objetivo da morte para os Hare Krishna é uma forma de se chegar a Krishna e poder morar junto a ele, findando o processo de reencarnações e assim obter a paz e a felicidade.

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No CANDOMBLÉ, sendo os seres humanos formados pela lama onde todos os orixás puseram as mãos, todos os seres humanos possuem parte destes orixás e em especial de um deles. E sendo os orixás forças da natureza como Xangô que representa o raio, Iansã que representa os ventos e a tempestade, Iroko que representa a árvore sagrada, Oxum, Yemanjá, que representam as águas, Oxossí que representa as ervas e folhas, ao morrer iríamos para o Orum, e aqui no ayê nos tornaríamos a nossa essência, aquele que é água, volta a ser água, o que é fogo volta a ser fogo, aquele que é folha volta a ser folha. A morte entre na religião dos nagôs não representa um fim, mas um processo para que a própria vida se renove. Portanto, sendo percebida como algo necessário não só para continuar a vida, como também para cessá-la pois haverá momentos, diz um mito yorubá, em que as pessoas iram clamar por Iku, o orixá da morte. E isso é fato quando vemos uma pessoa que comete suicídio ou autanasia. Essas pessoas, por algum motivo não desejam mais viver e preferem morrer, sair deste plano, mundo este que já não lhes trazem mais satisfação de viver.

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No CATOLICISMO a morte é vista como uma passagem para uma outra vida, a vida eterna no céu, para aqueles que praticam o bem e o inferno eterno para aqueles que praticam o mal. No cristianismo Jesus morre e ressurge para que todos os seres humanos possam ter uma vida eterna, e atingir o reino dos céus. A importância da morte no cristianismo é tão explícita que foi criada uma santa para ajudar nessa passagem, a Nossa Senhora da Boa Morte, bem como foi criado o dia de finados, para que os católicos pudessem de alguma maneira manter uma relação com seus mortos.

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Assim, todas as religiões tomam a morte como algo bom, não em termos de causa mas de conseqüências, o que a morte resulta é o que importa. Todas as religiões apontam que o pós morte nos leva sempre a um lugar bom. Daí me vem outra pergunta que discutiremos em outro momento. Se todos acreditam que o pós morte resulta em lugar melhor, e que é o lugar que todos que praticam aquela religião desejam ir. Por quê todos choram a morte de seus amigos e entes queridos?

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SOBRE O AUTOR:

ÂNGELO SATYRO é formado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP e Antropologia pela Universidade de Brasília - UnB. Foi aluno de doutorado em Antropologia Social na Universidad Complutense de Madrid - UCM, onde morou na Europa por 4 anos e meio estudando a relação entre religião Hare Krishna e alimentação ritual.

Em Barbacena é Proponente das seguintes leis municipais:

Criação do Conselho Municipal de Igualdade Racial (Executivo)

Criação do Comissão Parlamentar Permanente de Igualdade Racial (Legislativo)

Criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra (Conselho Municipal de Saúde de Barbacena)

Como gestor, em Barbacena, exerceu os seguinte cargos:

Presidente do Conselho de Igualdade Racial - (2012/2014)

Gerente Municipal de Igualdade Racial - (2013/2014)

É autor dos seguintes trabalhos etnográficos que envolvem as populações negras e indígenas de Barbacena:

Relatório Etnográfico da Comunidade Quilombola dos Candendês - (2012)

Primeiro Diagnóstico Socioeconômico e Demográfico das Populações Negras e Indígenas de Barbacena - (2017)

Roteiro Etnográfico da Comunidade Rural Indígena dos Purí de Padre Brito em Barbacena, Minas Gerais- (2018)

 

Atualmente, é presidente do Instituto Cultural Primeiro Quilombo


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