Inep explica por que apenas três questões foram anuladas após as primeiras denúncias; órgão descarta novas anulações mesmo após surgirem itens semelhantes divulgados meses antes
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O presidente do Inep, Manuel Palacios, explicou nesta terça-feira (25) por que o órgão decidiu anular apenas três questões do Enem 2025, mesmo depois de vir à tona que pelo menos oito perguntas semelhantes às da prova haviam sido compartilhadas meses antes pelo estudante de medicina Edcley Teixeira.
Segundo ele, as anulações, ou o “cancelamento parcial do Enem 2025”, foram uma medida emergencial, tomada antes que houvesse clareza sobre o alcance do vazamento, e novos cancelamentos não serão feitos.
De acordo com Palacios, a decisão inicial foi motivada pela contingência diante das primeiras revelações sobre o caso. Sem saber até onde chegavam as divulgações antecipadas, o Inep optou por agir de imediato.
Depois disso, novas análises concluíram que havia semelhanças, mas não equivalência total entre o material de Edcley e o exame oficial. Ele reforçou que “nenhuma questão idêntica apareceu no material divulgado por Edcley”.
O Instituto também afirma que a exposição prévia de alguns itens não altera o resultado, porque o impacto seria estatisticamente irrelevante perante o volume de questões que os participantes resolvem ao longo da preparação.
Após cancelamento parcial do Enem 2025, Inep diz que não terão mais questões anuladas
Em nota enviada à CNN Brasil, o Inep reiterou que nenhuma outra pergunta do Enem 2025 será anulada e declarou: “A avaliação técnica da autarquia é a de que a eventual memorização parcial e aleatória entre as milhares de questões pré-testadas para o Enem nos últimos anos não compromete a integridade do exame”.
A posição veio após a imprensa revelar que, além do que já se conhecia, pelo menos duas outras questões que caíram no Enem estavam em um grupo de WhatsApp usado como mentoria por Edcley em março oito meses antes do exame.
Mensagens mostram que ele compartilhou um problema de matemática sobre diluição de soluções: “Você tem 10 ml de uma solução com concentração de 99,95% de água e o restante de cloro. [De] quantos mililitros de água pura você precisaria adicionar a essa solução para que a concentração de água passe a ser de 99,90%?”. A resposta era 5. No Enem, uma pergunta muito similar apareceu com a mesma estrutura e o mesmo resultado.
Outra mensagem tratava de probabilidade com lançamento de dados — dessa vez, com enunciado idêntico ao que seria aplicado em novembro. Na época, Edcley afirmou ao grupo: “Agora uma coisa eu garanto, se cair no Enem pode marcar 125/216 sem medo de ser feliz… Nem leia [o enunciado] não”. Essa foi exatamente a alternativa apontada como correta pelo gabarito do Inep.
Esses casos se somam às três questões já canceladas pelo Inep depois que Edcley divulgou, em uma live no YouTube, itens quase idênticos aos usados no exame. Em entrevista ao Fantástico, no domingo (23), ele contou ter percebido que o Prêmio Capes de Talento Universitário utilizava perguntas que serviam como pré-teste do Enem — e que, a partir disso, montou um esquema para obter esses itens.
Segundo ele, universitários eram estimulados a participar da prova, recebiam pequenos pagamentos para memorizar questões e repassavam o conteúdo. Edcley usava esse material em aulas e mentorias e, posteriormente, passou a comercializar parte do acervo.
O chamado “cancelamento parcial do Enem 2025” refere-se exclusivamente às três questões anuladas pelo Inep logo após as primeiras suspeitas de vazamento envolvendo o estudante Edcley Teixeira.
Apesar de novas semelhanças terem sido identificadas entre itens divulgados antecipadamente e perguntas que caíram na prova, o instituto decidiu não ampliar o número de anulações. Ou seja, o cancelamento é “parcial” porque atinge somente esses três itens, mantendo todo o restante do exame válido.
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