Ex-funcionária do IMAIP denuncia coação de terceirizada para pedir demissão



Condição foi imposta pelo próprio dono da empresa terceirizada pela OSS que atua na intervenção, que disse que a única forma de contratar os colaboradores do hospital para que continuassem trabalhando na instituição seria eles pedirem demissão e perderem seus direitos trabalhistas.

Ex-funcionária do IMAIP denuncia coação de terceirizada para pedir demissão

Maria Aparecida da Silva Oliveira, de 58 anos, ex-funcionária do IMAIP – Hospital Policlínica de Barbacena – onde trabalhou nos últimos 16 anos, procurou a imprensa para denunciar a coação que ela e outros funcionários daquela instituição sofreram do proprietário da empresa terceirizada de Alimentação e Serviços, no mês de fevereiro de 2024, após a intervenção do hospital pela Prefeitura de Barbacena.

Com a intervenção realizada no dia 8 de janeiro pelo município, a organização social ICAASES – ex-Associação dos Pais e Amigos dos Surdos de Campinas – assumiu a gestão da instituição, e já no dia da intervenção trouxe consigo as empresas que quarteirizaram os serviços do hospital. Dentre elas a que assumiu os serviços de higienização, alimentação e recepção do IMAIP.

De 8 de janeiro até o final de fevereiro a terceirizada atuou gerindo os colaboradores registrados no IMAIP, e contratando novos empregados para a instituição. Mas, no final de fevereiro, a empresa terceirizada pela OSS chamou para conversar os colaboradores do IMAIP, quando, segundo Maria Aparecida, teria acontecido a coação.

“O dono da empresa, junto com a nossa chefe direta, conversaram com a gente e explicaram que a única forma que teríamos de continuar trabalhando no hospital seria se nós pedíssemos demissão da empresa. Segundo ele, não teria outra forma dele nos contratar se não pedíssemos demissão, e tínhamos que dar a resposta ali na hora. Foi um choque para todos nós”, relata Maria Aparecida.

“Como eu e as funcionárias mais antigas não concordamos em pedir demissão e perder nossos direitos, no meu caso mais de 10 anos de casa, eles mandaram a gente tirar férias, depois zerar todo o banco de horas, e quando voltamos o pessoal da intervenção demitiu a gente. Algumas funcionárias eles nem deixaram cumprir o aviso, e foi assim, desta forma triste que tive que sair de um trabalho ao qual dediquei 16 anos de minha vida - os 5 antes de fechar e mais 11 desde que ele reabriu”, conta Maria Aparecida, emocionada em relembrar a situação que as funcionárias viveram. E acrescenta, “Eu amo a Policlínica, e dei o meu melhor em todos estes anos. Durante a Covid eu que fazia a limpeza do CTI, fui corajosa, não tive medo de me dedicar àquelas pessoas que precisavam da gente para continuar a viver, e esse foi o pago que eu e outras pessoas tivemos.”

 

Em julho de 2023 o ex-aluno da EPCAR Tussoline veio de

Curitiba a Barbacena para agradecer a todos os que

cuidaram dele durante o período em que ele ficou

internado no CTI do Hospital Policlínica de Barbacena.

Ele ficou mais de dois meses lutando entre a vida e a morte.

Uma das pessoas que Tussoline fez questão de agradecer

por todo o carinho e dedicação foi a Maria Aparecida,

da higienização, que esteve atuando no CTI da Policlínica

durante a pandemia.

 Foto: Álbum pessoal

Segundo Maria Aparecida, todas as funcionárias da Higienização e Cozinha que se recusaram a pedir demissão foram demitidas do hospital. Uma delas, cozinheira muito querida por toda a equipe, e que logo da chegada da terceirizada da OSS ICAASES teve até um retrato inaugurado no refeitório como homenagem por ser a funcionária mais antiga na casa, 33 anos, foi uma das pessoas que foram demitidas equipe da intervenção. “Uma coisa que ninguém pode negar é a qualidade, o cardápio e o sabor da comida que era feita até a chegada da Conceito no hospital. Em todas as avaliações do hospital, era sempre um ponto muito elogiado, e hoje essa equipe que se dedicou por décadas nesta cozinha está aí, todas tendo que recomeçar a vida pedindo emprego, e vendo ao longe o que estão fazendo. Muito triste, e as pessoas precisam saber”, conta Maria Aparecida, que nos mostra a gravação que elas fizeram onde o proprietário da terceirizada conversa com as funcionárias dizendo que só continuariam trabalhando no hospital caso pedissem demissão.

Maria Aparecida esperou que a equipe da intervenção acertasse suas contas para que ela pudesse denunciar o caso. Ela já denunciou a situação no Ministério do Trabalho e Emprego, ao sindicato dos trabalhadores de Saúde da região, e agora procurou a imprensa para fazer sua denúncia. “Agora que eu sai do hospital eu não consigo nem mesmo passar ali naquela região sem que uma tristeza enorme tome conta de mim. Vem na lembrança uma vida inteira de dedicação, de amor, de muito trabalho. Passamos pela Covid que foi muito dura emocionalmente para todos nós trabalhadores do IMAIP por tudo que vivemos naquele momento, passamos por muitas dificuldades sim, mas estávamos muito animados e sabíamos que com a nova direção que havia assumido em junho iríamos dar a volta por cima e reescrever a história do hospital. Hoje me dói não estar mais lá, me dói muito não ter sido valorizada depois de tantos anos e de tanta dedicação”, finaliza Maria Aparecida.

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Nota da redação: Para confecção desta matéria, a ex-funcionária do IMAIP Maria Aparecida da Silva Oliveira nos apresentou dois áudios gravados por funcionárias onde o proprietário da empresa e a chefe da higienização dizem para elas pedirem demissão do hospital como condição de permanência no emprego.

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